Colonialismo do passado está de volta



10/02/2012 - 18:02
FRANÇA


A síndrome do Canal de Suez
Colonialismo do passado está de volta
Nicosia (República de Chipre) - Há quase um ano, a França assumiu a iniciativa, política e militar para a intervenção e derrubada do regime de Muammar Kadafi na Líbia, com a certeza de que seria um envolvimento de curta duração que serviria para lembrar - "a quem possa interessar" - de que à sua força política total nos correlacionamentos endoeuropeus deverá ser somada, também, sua força militar.
Ambas as apostas foram desmentidas. O envolvimento na intervenção à Líbia foi sangrento, durou vários meses e não mostrou ter alavancado a posição da França, tanto contra a Alemanha, quanto, também, os mercados e as agências internacionais de rating.
Tudo isso não parece ter afetado o presidente Nicolas Sarkozy, o qual lidera os esforços para intervenção (leia-se invasão) internacional na Síria, onde os riscos são multiplicados várias vezes mais em relação aos da Líbia.
Em antítese à Líbia, a França tem um passado condenável na Síria e no Líbano, países que foram governados por altos comissários franceses no período de 1918-1941, com o governo de Paris tendo como aliados os aleuitas em Damasco e os cristãos em Beirute.
Assim, torna-se rigorosamente óbvio que uma intervenção internacional tendo na primazia a França não acelerará, simplesmente, a derrocada do regime de Assad, mas também derrubará os equilíbrios religiosos e comunitários por ela conformados nestes dois países após a Primeira Guerra Mundial e inflamará uma série de guerras civis e conflitos endoárabes.
Em semelhante contrariedade encontrou-se, também, a Grã-Bretanha durante a gestão de Tony Blair na primavera de 2003, quando a derrubada do regime Baath de Saddam Hussein disparou o tiro de misericórdia no predomínio da maioria sunita no país, que o governo britânico havia imposto após 1918.

Invasão da Síria

Estas referências remetem ao papel protagonista e coordenador que a França desempenhou em 1956, por ocasião da intervenção militar no Canal de Suez: Naquela ocasião, o governo francês coordenou com o governo da Grã-Bretanha e com o governo do Estado de Israel uma intervenção no Egito, com alvo não tanto os interesses da empresa do Canal de Suez, que havia sido nacionalizada pelo então presidente egípcio Gamal Abdel Nasser, quanto com a persistente idéia de que se regime do Egito fosse derrubado enfraqueceria o levante nacional árabe na Argélia, que desnudou por completo a barbárie dos pára-quedistas franceses.
O inglório fim da intervenção após o ultimato soviético e a recusa dos EUA em apoiar a França e a Grã-Bretanha resultou o contrário do que almejavam, avidamente, os dois colonialistas.
Sarkozy brinca com o fogo em todas as frentes, em sua sublime obsessão para reeleger-se: envolve a Merkel em sua campanha pré-eleitoral e, simultaneamente, coordena os esforços para a formação de um grupo de nações - fora do âmbito da Organização das Nações Unidas (ONU) - dispostos a realizar um contato com a Síria, e proclama a composição de uma "coalizão de países com boa vontade" para exercer pressão e realizar a intervenção militar contra a Síria.
A exemplo de como aconteceu ano passado na Líbia, os EUA, que saíram do Iraque e agora esforçam-se para encontrar a porta de saída do Afeganistão, em meio a uma campanha pré-eleitoral, com muita satisfação permitirão a Sarkozy que protagonize os preparativos de uma intervenção na Síria.
Além dos riscos religiosos e comunitários na Síria, no Líbano e no Iraque, uma intervenção ocidental sob liderança francesa com alvo a derrubada do regime de Assad em Damasco provocará a contrariedade do Irã e o descontentamento da Turquia, assim como - em grau menor - do Estado de Israel.

Serbin Argyrowitz
Sucursal do Grande Oriente Médio.

"LA CROIX"
A Alemanha é realmente um país modelo?
Uma lição que ensina como dever e não pagar
Zurique - Em artigo de duas páginas e manchete de capa, o jornal francês La Croix questiona: "A Alemanha é realmente um país modelo?", enquanto em seu extenso artigo contabiliza as dívidas da Alemanha para com os países que prejudicou durante as duas guerras mundiais, enquanto, em seu subtítulo, afirma: "Após as duas guerras mundiais não resgatou suas dívidas" e desenvolve os pontos de vista do historiador e professor (alemão) da London School of Economics Albrecht Rachel, de acordo com o qual "o milagre econômico se deve a não resgatar as dívidas do país após as duas guerras mundiais".
"A ironia da história é - como explica Albrecht - que graças a uma reversão dos fundamentos, a Alemanha reencontra em sua frente os europeus, agora seus parceiros, na situação em que estes encontravam-se após o fim da Primeira e da Segunda Guerra Mundial: um país credor que deverá escolher até que ponto exigirá que resgatem sua dívida ou não".
O professor destaca que "em 1929, a dívida externa da República de Weimar totalizava 75% a 80% de seu Produto Interno Bruto (PIB), por causa dos resgates de indenizações relativas à Primeira Guerra Mundial.

Como a Grécia

Objetivando resgatar, o governo alemão tentou criar superávits comerciais, melhorando a competitividade por intermédio de uma política de deflação, isto é, por intermédio de redução em 30% dos salários, preços fixos e combatendo os monopólios.
"Como na Grécia hoje", comenta o professor. Esta política foi economicamente bem sucedida, mas politicamente catastrófica, considerando que abriu o caminho ao poder aos nazistas, os quais, em seguida, bloquearam as indenizações.
Após 1945, para garantir uma rápida recomposição da economia da Alemanha Ocidental - sua nova aliada contra a União Soviética - os EUA impuseram aos Estados que eram beneficiados pelo Plano Marshall que não exigissem imediatamente o pagamento das dívidas dos alemães.
Em consequência, em 1953, os Acordos de Londres previam que as dívidas da Segunda Guerra Mundial - cerca de 100% do PIB da Alemanha em 1938 - deveriam ser calculadas sem as indenizações (cujos valores jamais foram revelados), após a reunificação das duas Alemanhas.
"Paradoxalmente, não se fez referência sobre esta questão durante as negociações que concluíram na reunificação das duas Alemanhas, de nenhum outro país, com exceção da Grécia", diz o professor.
Já Helmut Köhl havia dito, pessoalmente: "Se nossos credores de 1945 exigissem o que lhes devemos, a Alemanha iria à falência". Consequentemente, a Alemanha nunca pagou ninguém.
Assim, surge o dilema para o governo de Berlim que sempre resume-se na frase "obrigará os países a pagarem, com risco de fazê-los a sangrar até a morte ou aceitar a anular os empréstimos que concedeu-lhes para salvá-los e salvar a ela mesmo", como muito, apropriadamente finaliza seu artigo o jornal francês.

Laura Britt
Sucursal da União Européia.

"União Européia Alemã" pode ser derrubada pelos EUA
Bruxelas - Desde a última Reunião de Cúpula dos chefes de Estado e de Governo da União Européia (UE), a chanceler alemã, Angela Merkel, rejeita, sistematicamente, todas as propostas, sugestões e idéias que lhe apresentam as autoridades (direitistas) da UE e, como rolo compressor, arrasa tudo e todos em sua passagem, a fim de impor as posições alemãs.
Assim, desde então nenhuma surpresa dissimulam as reuniões aqui, em Bruxelas. A partir do momento em que o presidente francês, Nicolas Sarkozy, já havia sucumbido às exigências e condições da Merkel para um euro com âmbito fiscal de frugalidade permanente, tudo havia sido decidido anteriormente.
Quem teria a coragem de discordar da linha do governo de Berlim, o imposto primeiro-ministro da Itália, Mario Monti, ou o primeiro-ministro da Estônia? Seguramente, ninguém. E assim que foi feito. O único que estaria em posição de dizer "não" a Merkel era o primeiro-ministro britânico, David Cameron. E assim o fez.
É tragicamente revelador, contudo, que em essência poquíssimos dos 26 empados líderes da UE concordavam com Merkel. Mas ninguém, infelizmente, ninguém, atreveu-se a cerrar fileiras até o fim com o governo de Londres.
Sequer a eurodireita, cujos líderes realizaram sua própria reunião - em Marselha - antes da Reunião de Cúpula da UE, não adotaram o plano de Merkel para o euro, o qual já havia sido imposto a Sarkozy. Em sua proclamação, a Eurodireita não faz nenhuma menção e muito menos alguma insinuação sobre as posições de Angela Merkel.

Golpe de estado

A chanceler alemã rejeitou as propostas que haviam preparado duas importantes figuras da eurodireita da UE, o empoado presidente do Conselho Europeu, Herman van Rompuy, e o igualmente empoado presidente da Comissão Européia (CE), órgão executivo da UE, José Manuel Barroso Durão. Arrasou os dois.
A resistência da Grã-Bretanha não salva mais do que pretextos, considerando que, embora tenha tornado impossível a constituição de uma nova Convenção da UE dos 27, esta será substituída por uma Convenção Intergovernamental dos 17 da Zona do Euro, mas aberta a qualquer país-membro da UE.
Em essência, Merkel está aplicando um golpe de estado com a anuência de todos os demais empoados líderes da UE, com exceção de Cameron. A cessão do controle do orçamento de um país a potências estrangeiras, isto é, a definição de sua política econômica é o maior atentado contra a sua soberania. E o mínimo exigível para legalizar e legitimizar isto seria uma fundamental Convenção da UE e, naturalmente, em nenhum caso alguns acordos de bastidores, supostamente democráticos, semelhantes aos até agora apresentados.
Não será bem-vinda para a democracia a "União Européia Alemã", o Quarto Reich que está edificando Merkel. É óbvio que com velozes ritmos são derrubados e abandonados todos aqueles processos "comunitários" de duração indeterminada para tomada de decisões e conformação de pontos de vista coesos, sobre os quais foram edificados a União Monetária e a UE, mesmo que pro forma.
Agora, o governo alemão decide e anuncia suas decisões ao Governo da França, o qual as confirma como sendo posições alemã e francesa. Sarkozy sabe que não são, mas o que fazer? As eleições francesas estão vindo aí.

EUA apoiam Londres

O rompimento UE-Grã-Bretanha não é uma questão de menor importância segundo parece por causa do isolamento do governo de Londres. Por trás da Grã-Bretanha encontram-se os EUA, os quais liderarão a guerra econômica contra a Alemanha e seus empoados submissos.
A "Operação minar o euro" já adquiriu importância vital para o governo de Washington, após ter constatado que a moeda comum européia aumentou verticalmente e consolidou o predomínio absoluto alemão sobre o continente europeu.
A hegemonia alemã sobre a UE está sendo minada, por um lado pela forte oposição dos povos da Europa que sofrem em consequência da frugalidade imposta; por outro, pela divergência de todos os empoados líderes políticos dos países-membros da UE, incluindo os de direita, aos planos alemães. Esta situação cria possibilidades para criação de novas alianças de países europeus com os EUA e a Grã-Bretanha.
Alvo principal da política norte-americana é desatrelar a França de sua aliança de submissão à Alemanha. Isto não é nada fácil, mas se os EUA conseguirem seu objetivo, então a derrocada da "União Européia Alemã" será quase imediata e, seguramente, completa.

Mary Stassinákis
Sucursal da União Européia.

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