O Dilema do Câmbio


 O Dilema do Câmbio

             A recente discussão sobre a desindustrialização do Brasil merece ser analisada sob a ótica da evolução da taxa de câmbio que é um dos preços-chave de qualquer economia. A taxa de câmbio é o preço que se paga para converter uma unidade de moeda estrangeira em moeda nacional. Mas como ela é formada?
            Nosso país adota o sistema de flutuação suja da taxa de câmbio (dirty floating) desde que foi abandonado o regime de  bandas cambiais em 1999. A taxa de câmbio é formada pela livre oferta e demanda de moeda estrangeira dentro do país, com eventuais intervenções do Banco Central que age no sentido de evitar oscilações bruscas e ataques especulativos.
            Quem traz dólares para o mercado doméstico? São os exportadores, turistas estrangeiros, investidores estrangeiros e empréstimos captados no mercado financeiro estrangeiro. E do lado da demanda de moeda estrangeira estão os importadores, turismo emissivo ( brasileiros lá fora), investidores brasileiros no exterior e principalmente as remessas de lucros das multinacionais que operam em nosso país e os pagamentos da dívida externa.
            Ocorre que nossa taxa de juros básica ( SELIC ) está em 10,75 % aa enquanto que a taxa básica dos EUA (Prime-rate) aponta para 3,25 % aa. Logo ocorre um forte ingresso de fundos estrangeiros (chamado hot money) com destino ao nosso mercado financeiro em busca de melhor remuneração. O fato é que esse ingresso volumoso de fundos financeiros provoca a redução da nossa taxa de câmbio o que, por sua vez, estimula as importações e reduz as exportações. Fica mais econômico importar bens manufaturados do que usar a produção industrial doméstica. Nasce então o processo de desindustrialização brasileira pois os atacadistas preferem buscar bens de consumo nos mercados externos , principalmente a China que tem uma capacidade produtiva quase infinita e de baixo custo já tendo superado o Japão  e assumindo, provisoriamente, o 2º  maior PIB do planeta.
A indústria  chinesa está inundando o Brasil com bens manufaturados  de toda ordem: eletrônicos, insumos, equipamentos industriais, vestuário, calçados e agora até automóveis chineses estão começando a ingressar em nosso mercado reduzindo  nossa produção industrial e podendo gerar aumento na taxa de desemprego.
            A conseqüência é a deterioração do fluxo cambial que em junho do corrente gerou um resultado negativo de US$ 788 milhões na conta comercial, com importações de US$ 14,749 bilhões  e exportações de US$ 13,961 bilhões .  O mais grave de tudo é a mudança na pauta de exportação nacional. Com efeito, de janeiro a junho de 2010, os produtos manufaturados responderam por 40,52% das exportações brasileiras, ao passo que os produtos básicos responderam por 43,38% de nossas exportações. É a primeira vez desde 1978 que as exportações de básicos superam as exportações de manufaturados. Associação de Comércio Exterior (AEB). O cenário que surge é preocupante pois a indústria nacional está perdendo competitividade frente aos concorrentes externos.     
            Apesar disso, as reservas internacionais do Brasil estão na ordem de US$  253  bilhões o que ainda  se constitui em uma folgada segurança nacional contra a insolvência externa. O que pode ocorrer com a perpetuação do déficit na balança comercial é a redução do volume de reservas externas o que, por sua vez, irá induzir uma inevitável desvalorização da taxa de câmbio.
            No curto prazo, o que se espera da autoridade  monetária/cambial é uma maior sensibilidade e  uma mudança de rumo no sentido de reduzir a taxa de juros doméstica para melhorar nosso saldo cambial e aumentar a atividade industrial interna.

Prof. João Neutzling Jr
Economista,
 Faculdade de Tecnologia SENAC Pelotas

Comentários