Por que Baixar os Juros?
Por que Baixar os Juros?
Todos sabem que a taxa de juros e a taxa de câmbio são preços chaves no desempenho macroeconômico de qualquer país. E no atual momento de crise econômica que assola o mundo inteiro a manutenção de uma política monetária restritiva por parte do Banco Central do Brasil soa como inadequada.
Os juros podem ser entendidos de duas formas: a) ou é a remuneração pela renúncia à liquidez, b) ou é o custo que se paga para usar a poupança financeira alheia. No primeiro sentido basta ver, como exemplo, a remuneração da nossa tradicional caderneta de poupança que paga 0,6% am. Por outro lado, o sujeito que necessita tomar recursos financeiros emprestados junto a um banco paga taxa s de até 10% am (no caso do cheque –especial).
A diferença entre as duas taxas chama-se, na linguagem econômica, de ‘spread’ bancário. E no caso brasileiro é um dois maiores do mundo. Os maiores beneficiados desta conjuntura são os bancos que pagam taxas de captação extremamente baixas e emprestam recursos a taxas muito elevadas. Não é à toa, portanto, que as instituições de crédito brasileiras têm rentabilidade sobre o patrimônio maior que a média dos países europeus e dos EUA.
O spread bancário do Brasil é o maior do mundo atualmente atingindo 34,88 pontos percentuais contra 3,13 dos EUA ( conforme Folha de S. Paulo, 01/02/09, p. B1). Uma das causas desta situação é a forte oligopolização do setor bancário onde quatro instituições concentram cerca de 80% da poupança financeira nacional. Não existe uma concorrência acirrada no setor bancário no tocante à remuneração das aplicações financeiras.
Para efeito de comparação, o Banco da Inglaterra (autoridade monetária) reduziu recentemente sua taxa de juros básica (Libor) para 0,5 % aa ( a menor desde 1694), o Banco Central Europeu (BCE) reduziu os juros básicos para 1,5% aa . E os EUA mantêm sua taxa de juros básicas (prime-rate) em valor próximo de 3,25% aa.
Enquanto isso, ao lado de baixo do Equador, o COPOM (Comitê de Política Monetária do BACEN) mantém a taxa SELIC no Brasil em 12,75% aa. Quem se beneficia disso? Ou de outra forma, quem está certo nesta discussão? Os bancos centrais dos países ricos ou o nosso que teima em praticar juros elevados.
As razões do BC brasileiro, expostas mais de uma vez (ainda que discretamente), pela dupla Mantega/Meirelles são três: o diferencial de juros a nosso favor promove o ingresso de moeda estrangeira que é aplicado em títulos de renda fixa no mercado financeiro, juros altos são um freio à inflação (6,5% aa em 2008) e , por fim, permitem a rolagem dos títulos da dívida pública mobiliária (R$ 1,2 trilhão) .
Ainda que aceitáveis há outro argumento mais importante que os anteriores. O setor privado da economia somente realiza investimentos (formação bruta de capital fixo) quando a taxa de retorno do investimento é superior à taxa de juros média dos empréstimos . Do contrário, ele aplica recursos no banco e vive de rendimentos.
O Brasil atingiu ano passado um PIB de U$ 1,664 trilhão e pode crescer ainda mais se houvesse uma redução na taxa de juros.
A taxa SELIC, que é a taxa de juros básica da economia, e niveladora das demais taxas de juros poderia ser reduzida gradualmente o que induziria um maior volume investimento por parte do setor privado. Esse fato gera maior volume de emprego, de arrecadação fiscal, de massa salarial e de consumo individual o que gera um círculo virtuoso de crescimento.
Uma redução na diferença entre SELIC e PRIME-RATE poderia, em tese, gerar fuga de capital estrangeiro aplicado no mercado financeiro. Mas, um ciclo de crescimento sustentado da economia (baseado no aumento do mercado consumidor interno) também gera aumento do investimento estrangeiro direto sob forma de novas fábricas, indústrias, etc. o que manteria estável nosso saldo de reservas internacionais de US$ 189 bilhões.
Espera-se que na próxima reunião o COPOM tenha a sensibilidade suficiente para aplicar um corte maior na taxa SELIC e apostar mais na capacidade empresarial doméstica.
Prof. João Neutzling Jr
Economista, Mestre em Educação,
professor da Faculdade SENAC Tecnologia
e Anhanguera Educacional S/A
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