Uma guerra cambial?

Por: João Neutzling Júnior, Economista, mestre em Educação e professor da Faculdade de Tecnologia Senac/Pelotas - Jknj.@terra.com.br

A recente reunião do G20, grupo dos 20 países mais ricos do mundo (que representam 85% do PIB do planeta), em Seul, na Coreia do Sul, não resultou em medida alguma de mudança na atual estrutura econômica mundial. E não poderia ser de outra forma.

O governo dos Estados Unidos acusa a China de manter sua moeda, o yuan, desvalorizada artificialmente o que faz do gigante asiático ser o maior exportador de bens de consumo do mundo. A China tem uma taxa de crescimento do PIB da ordem de 10% ao ano e é o grande receptor de investimentos estrangeiros na Ásia. Sua taxa de desemprego é baixa, tem forte superávit na balança comercial, mercado consumidor interno em expansão, grande estabilidade política (regime de partido único) e o país acumula reservas cambiais de 2,7 trilhões de dólares. Por que mudar então?

Na outra ponta do pacífico, os EUA tem déficit a balança comercial (importações maiores que exportações) de 550 bilhões de dólares ao ano, dívida pública interna de mais de 6,5 trilhões de dólares e crescendo no valor de um trilhão de dólares ao ano (déficit público decorrente de despesas maiores que a receita fiscal), desemprego em alta e sem muita margem de manobra de política econômica. A taxa prime-rate, taxa básica de juros dos EUA, está perto de 2% ao ano de modo que o país já está na chamada “armadilha da liquidez”, situação em que a taxa de juros é muito baixa e incapaz de impulsionar o crescimento econômico.

Uma das causas da crise dos EUA foi a guerra do Iraque que custou mais de dois trilhões de dólares ao tesouro americano. É importante lembrar que o governo Bush herdou de Bill Clinton um país com superávit na conta fiscal que em pouco tempo se transformou num saco sem fundo.

Os EUA vivem hoje o pior dos mundos. Não podem mais reduzir os juros domésticos para estimular o crescimento econômico. Outra alternativa seria então usar uma política fiscal expansionista (gastos maiores que receita pública) de modo a estimular o crescimento econômico. Situação em que eles já estão e não adiantou nada.

Como se isso não fosse suficiente, a China e o Japão são os maiores financiadores da dívida pública americana. Sem as reservas cambiais de dólares dos asiáticos o governo dos EUA teria que gerar superávit fiscal para reduzir o estoque de sua dívida o que jogaria o país em uma recessão calamitosa.

O que resta no arsenal de políticas macroeconômicas dos EUA é forçar a desvalorização do dólar para impulsionar seu setor industrial e tentar gerar superávit na balança comercial. E é justamente isso que a reunião do G20 tratou de abortar. Uma sucessão de desvalorizações monetárias jogaria o planeta em uma guerra cambial absurda.

Qual a solução então? Para a China é uma só: deixar tudo como está, continuar financiando a dívida pública dos EUA, acumular mais superávit na balança comercial, aumentar ainda mais suas reservas e, em pouco tempo, assumir o posto de país mais rico do mundo pois até o Japão já ficou para trás.

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